sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Itinerário da solidão

Em minhas andanças cotidianas em ônibus, percebi não de hoje, uma assustadora e real questão. O quê tem afastado as pessoas das pessoas? Será pura distração (acho difícil) ou individualismo mesmo? Não contente com o quê via, resolvi prestar mais atenção. Notei que estas pessoas não estavam "sós". Distraídas, entretidas e dopadas com recursos tecnológicos como celulares, notes, tabletes e por aí vai... Porém, haviam outras que não possuiam tais recursos. Ora, a tecnologia estaria individualizando as pessoas, inclusive nas ruas, onde parto do princípio de um lugar "democrático" de livre encontro. Tomei, então, por base os coletivos ou ônibus como queiram. 
Nos dias em que esta condução está vazia pode-se perceber melhor este fenômeno. São corpos distantes, mentes vagando em seus bancos. Eis o ponto crucial: um ônibus vazio, lugares a sobrar em bancos duplos. Cada qual escolhe sua janela. Evitam-se lugares vazios ao lado de outras pessoas. Para não incomodar ou não sentir-se assim? Seria a janela a grande vilã? Um paradoxo de uma janela que apresenta transeuntes para uma vaga alma viajante. São pessoas lá fora que passam aos olhos desta pessoa no banco, sozinha, evitando ficar ao lado de outras pessoas dentro do coletivo. Estranho!
Passando pela roleta pude ver cada corpo em seu território, como a proteger, a admirar, a caçar, a devanear por cada canto da janela. Nada de duas pessoas no mesmo banco. Ainda, que durante o percurso o ônibus vá lotando aos poucos, estas que adentram procuram os lugares vagos, de preferência ao lado da janela, e aberta. Mesmo que este assento vago esteja lá no fundo do coletivo. O que parece importar é a solidão. 
Tecnologia, janelas ou janelas abertas, transeuntes...o que importa é a solidão ou individualismo. E, sem esta de "a cada um escolhe o que quer"; ou " eu adoro janelas"; " quero dormir"; " gosto da paisagem", etc, etc e mais desculpas. O problema, se é que é um, é o abismo consentido e querido, que se cria entre as pessoas no real que por vezes somente é preenchido quando não se tem mais jeito.
Pensem antes de chegarem ao "ponto".