terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A hibernação terminou!
Todo tempo requer seu tempo
deslocado na vontade de se recolher
de estar, de ser.
Um simples deitar num canteiro de espera
Um soluçar de palavras entaladas
O sol vem despertar o calor da manhã,
do novo vento, as ferramentas do momento.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Liberdade vermelha

Antes, os grilhões me apertavam os pulsos;
ainda me sangram, mas não mais pelo meu choro em ficar trancafiado,
e sim, pela ânsia de voar.
É preciso jorrar-se para voar.
O quarto da vida é escuro e úmido
os poucos sóis das manhãs insólitas
são meus sorrisos e realçam minhas forças nos dias que seguem
Assim vivo!
Me alimento de esperança, saudade e ódio;
um coquetel fatal para os mamíferos,
não a mim, que sou ave, sou um voador
sou um etéreo a isto posto.
Ouço o mundo bailando, cantando e devaneando
às minhas janelas cerradas,
aos meus olhos atentos e sedentos
ao meu peito inflamado de liberdade.
Chegou a hora!
Parte da minha carne apodrece no chão
não é carcaça, nem casulo
são pedaços de mim que deixei para trás
ao romper com os ferrolhos.
Dei-me o desfrute do ar fresco
das orquídeas nascentes
da grama orvalhada
dos sorrisos ao vento.
Voei e vi o vale
vestido de verde voraz
dum verossímil viver
vi a vida.
Encontrei lábios em tormenta
tatos a tremerem
pousei e a terra perfumou
um chamado à realidade.


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Para toda janela...



Para toda janela...
                                                                                   Um pulo
Um gato
Uma chuva
Uma planta
Uma brisa
Um choro
Um grito
Uma pedra
Uma bola
Uma limpeza
Um pombo
Uma banda
Uma fofoca
Um beijo
Um sorriso
Uma praia
Uma parede
Um adeus
Um olhar
Um cigarro
Um pensamento
Um porre
Uma fugida
Um brilho
Um embaçar
Um coração
Um rosto
Uma chuva
Um frio
Um ventilador
Um espiar
Um esperar
Uma partida
Um novo dia!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A volta do espetáculo!

Pelejar pelos olhos em ver meu presente
uma preguiça que se arrasta pelo céu
Procurar na imaginação, uma fonte,
uma desculpa entre caneta e papel.
Sem sol, sem tardes, tarde da noite
escurece num choro, amordaça um sono
não há tanta tinta, nem sorrisos
um carinho, um beijo sem dono.
A aurora voltou! 
Entrelace de contos 
Catarse de sonhos
Gramática sem acordo.
O vil festejar sob à lua
não fará o palhaço mais derramar
sejam lágrimas, sejam amarguras;
que seja para a rua,
a favor da aventura.
Toma-me o cansaço
amarre-o sem ternura;
desvenda o cálice de palavras
descanse a boca da feiura.
Será um dia límpido
de céu azul e doces cantigas
à relva rolaremos de rir
entre lábios e dedos, apenas destreza. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Carta aos loucos


Desliguem a prosopopéia que eu quero falar.
Não faço minhas idéias sem metaforizar,
Nas vírgulas entendo como se faz o apelo
Na intransitiva vida sem pleonasmar.

Que transe transitivo!
Não brinco de estar vivo
Respiro a poeira das vírgulas
Num rastro de letras e aperitivos.

Dos postes, haja luz que ilumina os pontos
Não de ônibus, mas os proparoxítonos
Tão feios e tônicos,
Que cambaleiam me deixando tonto.

Um abraço aos que, nas falésias do coração
Deixam entrar a loucura de uma crase
A poesia de uma oração
Nada de adversativa, porém de ligação.

Salve! Elipse que não é do sol
Pertence aos grandes voadores
Os que usam aerosol
Fazem do ditongo seu paiol.

Obrigado pelos ouvidos
Pelos arrepios nos adjetivos
Tendo modos ou sem eles,
Interpreto o texto sem gemidos.

Pós Scriptum para encher o saco
Quando efêmero foi o esquecimento
Cai o artigo ante o substantivo
Predicando o sujeito enrolado

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Carta segundo um tolo

Desce meu outono
que em curvas turvas me perco em tuas ruas
Deliciar sua boca é preciso
é ao mar adentrar
é a vida que ainda preciso nascer.
Risca-me com teu batom, ó noite
pinta-me os olhos de aurora
em suaves lampejos de teu corpo,
sendo serena...toque-me.

Tão lua de semblante quieta
ao passo que encanta
ternura se vai pelo meus desencantos
longe de mim ao lado
devolvam-me os dados.
Onde estive que não me acho
mesmo fitando pedra, ave e ar
pitando as últimas fumaças
tecendo em ariais letras
saudade!?
Como posso ter saudade do que não há?
como pode haver uma saudade?
Saudade, pode haver alguma?
São tantas ou é uma?
Lúdicos e infiéis versos
agora me deito na verdade do dia que nunca se porá
estas amargas entranhas da senhora a quem um dia chamaram de Amor
são contas de instantes à fina faca,
que dilacera, acelera
pérpetua megera, agridoces beijos
mútuo desabotoar de nossas vidas.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Soneto da Vida Nova - Homenagem ao Dia Nacional da Poesia e a Dante Alighieri


Tão discreta e gentil que me afigura
ao saudar, quando passa, a minha amada,
que a língua não consegue dizer nada
e a fitá-la, o olhar não se aventura.

Ela se vai sentindo-se louvada
envolta de modéstia nobre e pura.
Parece que do céu essa criatura
para atestar milagre foi baixada.

Ao que a contempla infunde tal prazer,
pelos olhos transmite tal doçura,
que só quem prova pode compreender.

E assim, parece, o seu semblante inspira
um delicado espírito de amor
que vai dizendo ao coração suspira