quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A volta do espetáculo!

Pelejar pelos olhos em ver meu presente
uma preguiça que se arrasta pelo céu
Procurar na imaginação, uma fonte,
uma desculpa entre caneta e papel.
Sem sol, sem tardes, tarde da noite
escurece num choro, amordaça um sono
não há tanta tinta, nem sorrisos
um carinho, um beijo sem dono.
A aurora voltou! 
Entrelace de contos 
Catarse de sonhos
Gramática sem acordo.
O vil festejar sob à lua
não fará o palhaço mais derramar
sejam lágrimas, sejam amarguras;
que seja para a rua,
a favor da aventura.
Toma-me o cansaço
amarre-o sem ternura;
desvenda o cálice de palavras
descanse a boca da feiura.
Será um dia límpido
de céu azul e doces cantigas
à relva rolaremos de rir
entre lábios e dedos, apenas destreza. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Carta aos loucos


Desliguem a prosopopéia que eu quero falar.
Não faço minhas idéias sem metaforizar,
Nas vírgulas entendo como se faz o apelo
Na intransitiva vida sem pleonasmar.

Que transe transitivo!
Não brinco de estar vivo
Respiro a poeira das vírgulas
Num rastro de letras e aperitivos.

Dos postes, haja luz que ilumina os pontos
Não de ônibus, mas os proparoxítonos
Tão feios e tônicos,
Que cambaleiam me deixando tonto.

Um abraço aos que, nas falésias do coração
Deixam entrar a loucura de uma crase
A poesia de uma oração
Nada de adversativa, porém de ligação.

Salve! Elipse que não é do sol
Pertence aos grandes voadores
Os que usam aerosol
Fazem do ditongo seu paiol.

Obrigado pelos ouvidos
Pelos arrepios nos adjetivos
Tendo modos ou sem eles,
Interpreto o texto sem gemidos.

Pós Scriptum para encher o saco
Quando efêmero foi o esquecimento
Cai o artigo ante o substantivo
Predicando o sujeito enrolado

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Carta segundo um tolo

Desce meu outono
que em curvas turvas me perco em tuas ruas
Deliciar sua boca é preciso
é ao mar adentrar
é a vida que ainda preciso nascer.
Risca-me com teu batom, ó noite
pinta-me os olhos de aurora
em suaves lampejos de teu corpo,
sendo serena...toque-me.

Tão lua de semblante quieta
ao passo que encanta
ternura se vai pelo meus desencantos
longe de mim ao lado
devolvam-me os dados.
Onde estive que não me acho
mesmo fitando pedra, ave e ar
pitando as últimas fumaças
tecendo em ariais letras
saudade!?
Como posso ter saudade do que não há?
como pode haver uma saudade?
Saudade, pode haver alguma?
São tantas ou é uma?
Lúdicos e infiéis versos
agora me deito na verdade do dia que nunca se porá
estas amargas entranhas da senhora a quem um dia chamaram de Amor
são contas de instantes à fina faca,
que dilacera, acelera
pérpetua megera, agridoces beijos
mútuo desabotoar de nossas vidas.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Soneto da Vida Nova - Homenagem ao Dia Nacional da Poesia e a Dante Alighieri


Tão discreta e gentil que me afigura
ao saudar, quando passa, a minha amada,
que a língua não consegue dizer nada
e a fitá-la, o olhar não se aventura.

Ela se vai sentindo-se louvada
envolta de modéstia nobre e pura.
Parece que do céu essa criatura
para atestar milagre foi baixada.

Ao que a contempla infunde tal prazer,
pelos olhos transmite tal doçura,
que só quem prova pode compreender.

E assim, parece, o seu semblante inspira
um delicado espírito de amor
que vai dizendo ao coração suspira

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Itinerário da solidão

Em minhas andanças cotidianas em ônibus, percebi não de hoje, uma assustadora e real questão. O quê tem afastado as pessoas das pessoas? Será pura distração (acho difícil) ou individualismo mesmo? Não contente com o quê via, resolvi prestar mais atenção. Notei que estas pessoas não estavam "sós". Distraídas, entretidas e dopadas com recursos tecnológicos como celulares, notes, tabletes e por aí vai... Porém, haviam outras que não possuiam tais recursos. Ora, a tecnologia estaria individualizando as pessoas, inclusive nas ruas, onde parto do princípio de um lugar "democrático" de livre encontro. Tomei, então, por base os coletivos ou ônibus como queiram. 
Nos dias em que esta condução está vazia pode-se perceber melhor este fenômeno. São corpos distantes, mentes vagando em seus bancos. Eis o ponto crucial: um ônibus vazio, lugares a sobrar em bancos duplos. Cada qual escolhe sua janela. Evitam-se lugares vazios ao lado de outras pessoas. Para não incomodar ou não sentir-se assim? Seria a janela a grande vilã? Um paradoxo de uma janela que apresenta transeuntes para uma vaga alma viajante. São pessoas lá fora que passam aos olhos desta pessoa no banco, sozinha, evitando ficar ao lado de outras pessoas dentro do coletivo. Estranho!
Passando pela roleta pude ver cada corpo em seu território, como a proteger, a admirar, a caçar, a devanear por cada canto da janela. Nada de duas pessoas no mesmo banco. Ainda, que durante o percurso o ônibus vá lotando aos poucos, estas que adentram procuram os lugares vagos, de preferência ao lado da janela, e aberta. Mesmo que este assento vago esteja lá no fundo do coletivo. O que parece importar é a solidão. 
Tecnologia, janelas ou janelas abertas, transeuntes...o que importa é a solidão ou individualismo. E, sem esta de "a cada um escolhe o que quer"; ou " eu adoro janelas"; " quero dormir"; " gosto da paisagem", etc, etc e mais desculpas. O problema, se é que é um, é o abismo consentido e querido, que se cria entre as pessoas no real que por vezes somente é preenchido quando não se tem mais jeito.
Pensem antes de chegarem ao "ponto".

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


 Moças pífias
 

Aos olhos destas velhas moças
Vão visões turvas e cansadas
De um pobre coração que vos fala
Não souberam declamar sobre mim
Não souberam difamar meus passos
Não sou vidro,
Não quebro.
Aos braços destas mulheres loucas
Segue suas vorazes falas
Largam flexas ao meu peito
Não adianta, não tem jeito
Sou imortal às unhas destas
Não rasgo,
Não há peito aberto.
Ao sol que as aquece
Não há beleza que enternece
Só musgos nos sorrisos
Em seus erros se esquece
Suas pobres almas
Que não aceito,
As rejeito de toda alma.
Recuem suas poesias,doces putas,
Clamarão por um lago a se banharem
Um pequeno pão de ajuda,
Mas terão o azedo e o amargo
Nas entranhas lhes será um fardo
Um pesar,
De um choro que dançarei no lagar.