sábado, 23 de fevereiro de 2013

Liberdade vermelha

Antes, os grilhões me apertavam os pulsos;
ainda me sangram, mas não mais pelo meu choro em ficar trancafiado,
e sim, pela ânsia de voar.
É preciso jorrar-se para voar.
O quarto da vida é escuro e úmido
os poucos sóis das manhãs insólitas
são meus sorrisos e realçam minhas forças nos dias que seguem
Assim vivo!
Me alimento de esperança, saudade e ódio;
um coquetel fatal para os mamíferos,
não a mim, que sou ave, sou um voador
sou um etéreo a isto posto.
Ouço o mundo bailando, cantando e devaneando
às minhas janelas cerradas,
aos meus olhos atentos e sedentos
ao meu peito inflamado de liberdade.
Chegou a hora!
Parte da minha carne apodrece no chão
não é carcaça, nem casulo
são pedaços de mim que deixei para trás
ao romper com os ferrolhos.
Dei-me o desfrute do ar fresco
das orquídeas nascentes
da grama orvalhada
dos sorrisos ao vento.
Voei e vi o vale
vestido de verde voraz
dum verossímil viver
vi a vida.
Encontrei lábios em tormenta
tatos a tremerem
pousei e a terra perfumou
um chamado à realidade.